Quantos de vocês não desenvolveram sentimentos negativos, quase que traumáticos, quanto ao aprendizado da gramática da língua inglesa? Com esse artigo pretendo mostrar que ela (sim, a boa e velha Dona Gramática) é amiga, e não inimiga como muitos a encaram.
Qualquer pessoa que venha a tentar definir o que é gramática, chegará próximo a algo do tipo "um conjunto de regras a serem seguidas para o bem falar de uma língua". Tal definição não se apresenta somente rasa, mas também a restringe a uma mera reguladora do que é certo ou errado no uso da língua.
Em contrapartida, gosto muito da definição proposta pela autora Penny Ur, cuja linha de pensamento sempre me pareceu muito elucidativa: "Gramática é um conjunto de regras que determinam como as palavras se combinam ou mudam para formar unidades aceitáveis de significado" (1)
Sendo assim, além de representar a estrutura de uma língua, a gramática está ligada ao significado das frases que produzimos. Portanto, a existência de diferentes formas gramaticais em um idioma se justifica pela diversidade e riqueza de intenções comunicativas do discurso. Ou seja, quanto maior for o seu conhecimento e domínio de diferentes estruturas gramaticais, maior e mais diversificada será a sua capacidade comunicativa com a língua almejada.
Se o que você quer ao tentar aprender uma língua estrangeira é conseguir se comunicar, e idealmente, se expressar com a mesma eficiência que faz com a sua língua mãe, não há razão para menosprezar, ou em casos extremos rejeitar, o aprendizado da gramática.
Proponho pensarmos na gramática como um manual e termos o idioma estrangeiro como um produto incrível que adquirimos. Queremos usá-lo e explorar todos os seus recursos. Existe o "manual" desse "produto", mas já queremos começar a usá-lo, esperando aprender intuitivamente. Nós até conseguimos ligá-lo e executar algumas funções básicas. No entanto, a performance apresentada está muito aquém da esperada. Não conseguimos fazer todas aquelas coisas lindas que vimos no comercial. Enfim nos convencemos de que precisamos estudar o "manual". No início é um pouco difícil, pois precisamos ler e reler para entendermos plenamente. Até que após algum tempo, conseguimos aprender todas as funções que os fabricantes tão minuciosamente projetaram.
Sei que muitos estão pensando agora "Se a comparação foi com o celular, eu nunca precisei ler o manual para saber usar!" Bem, em primeiro lugar, se você praticasse inglês com a mesma frequência com a qual usa o seu celular, já estaria pra lá de fluente! Em segundo lugar, sempre há aquele momento em que precisamos fazer algo no celular e não sabemos onde encontrar os comandos. Há também centenas de funções nas configurações que nos são totalmente desconhecidas. Talvez no aprendizado do inglês seja um pouco assim. Muitas coisas aprendemos por exposição e por nos aventurar, o que pode ser até mais eficiente (e interessante) do que um estudo formal. Porém, embora você não precise de todas aquelas "funções", sempre vai ter aquele momento em que a comunicação vai acontecer aos trancos e barrancos, causando um sentimento de que poderia ter sido muito melhor, ou talvez ter acontecido de maneira mais confortável.
Se o estudo da estrutura da língua é de grande auxílio para uma comunicação mais eficiente e plena, como por exemplo no aprendizado dos diferentes tempos verbais, por que há tantos alunos que insistem em querer um curso focado na fluência e não no trabalho com gramática? Por que separar duas coisas que andam juntas?
Talvez o problema esteja no ensino formal que falhou em mostrar o estudo da gramática como uma ferramenta para uma comunicação plena. Ou pode ter sido uma dificuldade em se enxergar a relação das dadas estruturas gramaticais com as suas correspondentes funções comunicativas.
Foi então que comecei a ter como premissa do meu trabalho com "grammar", mostrar aos alunos quais diferentes contextos e demandas comunicativas estão diretamente ligadas às diferentes estruturas estudadas. Para profissionais de ensino de língua estrangeira, isso parece algo óbvio, pois é necessariamente feito quando se introduz, por exemplo, um novo tempo verbal. O que eu faço de maneira consistente é aplicar essa estratégia na prática oral. Procuro deixar claro qual a função comunicativa de uma dada estrutura e preparo atividades com o objetivo de inserir os alunos em contextos cuja demanda seja necessariamente o ponto estudado. Dessa maneira os alunos percebem que é muito mais fácil alcançar seus objetivos comunicativos através do uso de um dado tempo verbal.
Vejamos alguns exemplos.
O "verb to be" é frequentemente usado para a função comunicativa de descrição de pessoas, coisas e lugares. Paralelamente, se faz fundamental o ensino de adjetivos, reforçando a ideia de que a gramática e vocabulário devem andar juntos.
Em um momento inicial, o aluno é direcionado a descrever:
- Pessoas: familiares, amigos, pessoas famosas que admira (ou não admira).
- Lugares: Sua cidade, cidades populares no mundo, lugares que visitou ou gostaria de visitar, etc.
- Objetos - coisas ao seu redor, objetos pessoais, desejos de consumo, etc.
Aumentando o desafio, pode-se estender a atividade para "Expressar opinião" ou "Dizer porque gosta ou não gosta de algo/alguém".
What's your opinion on the new Iphone?
I think it is....
I guess it's...
Why do you like Nike sneakers?
Because they are....
Associada a essa prática em contextos relevantes definidos, ainda há a grande vantagem da personalização dos assuntos discutidos. Ou seja, não me limito ao assunto proposto no material didático, proponho diversos assuntos me baseando no que conheço sobre o perfil de cada aluno. Também posso sugerir uma lista de tópicos para serem escolhidos, aumentando assim a motivação para a conversa.
Sendo assim, atividades de "speaking" que conseguem envolver os alunos em contextos relevantes, ou com assuntos do seu interesse, são as mais eficientes. Isso possibilita que o aprendizado da gramática aconteça de forma mais natural e prazerosa.
Portanto, não tenham medo da gramática, pois ela não morde. O seu aprendizado ajuda muito a desenvolver uma comunicação plena. Sei que pode ser tenso o início do estudo dos "verb tenses", mas tenham certeza de que com o tempo vocês vão se tornar cada vez mais confiantes.
É só aplicar a fórmula: prática constante + contexto relevante + assunto interessante.
(1) Trecho original: “Grammar is a set of rules that define how words (or parts of words) are combined or changed to form acceptable units of meaning within a language.” (Peny Ur. 1996. A Course in Language Teaching.)
Por Elaine Florencio (English Trainer)